Pontas de lança do desenho industrial brasileiro, há mais de duas décadas os irmãos Campana dão novo sentido a materiais do cotidiano.
Criar objetos intrigantes a partir de materiais reles é a especialidade de dois irmãos
do interior de São Paulo. Com peças feitas de ralo de banheiro, plástico-bolha
e corda, Fernando e Humberto Campana colocaram o Brasil no mapa do design
mundial há quase 25 anos.
“As brincadeiras com mandacaru, barro e bambu no fundo do quintal, em Brotas,
foram laboratório para o que hoje é nosso trabalho”, contam. Humberto havia se
formado em Direito, no fim dos anos 1980, mas procurava em cursos de escultura
e desenho uma vocação mais artística. Fernando, o caçula, tinha se formado em
Arquitetura e também gostaria de seguir pelo caminho da criação. A partir da coleção
de cadeiras Desconfortáveis, de 1989, a dupla lançou ao mundo uma visão brasileira
de design, sem referências, inspirações nem tendências vindas de fora.
“Queríamos ser alemães no começo, fazer coisas perfeitas. Ficávamos loucos
porque o alumínio entortava”, conta Fernando, sobre o caminho que os levou a
reconhecer a própria identidade. E completa: “Um dia, baixamos a guarda: nós não
nascemos na Escandinávia nem no Japão, nós nascemos no Brasil e vamos fazer uma
coleção de cadeiras chamadas Desconfortáveis. Foi a nossa libertação”.
Hoje as cadeiras, mesas, luminárias, fruteiras e outros utensílios com status de
obra de arte são multiplicados por empresas da Itália, centro do design mundial,
e decoram o café do Theatro Municipal de São Paulo e do Museu D’Orsey de
Paris, por exemplo. Sem falar que os Campana têm criações expostas em museus
como o MoMA, nos Estados Unidos, o Pompidou, na França, e o Vitra Design
Museum, na Alemanha.
Sobre a busca de uma identidade brasileira reconhecível no mundo, mas sem
excessos, Fernando resume: “A gente conseguiu fazer um vocabulário de imagens
que representam o Brasil sem ser clichê”.