Quem costuma caminhar pelo bairro do Bom Fim, em Porto Alegre (RS), já deve ter se deparado com uma turma com panos e agulhas à mão. Toda terça-feira as Bordadeiras da Redenção dão cor a um restaurante da capital gaúcha com o estilo artístico que permeia várias gerações.
Tudo começou em 2015, quando o Grupo Matizes Dumont ministrou um curso de bordado na cidade. A jornalista Iara Maurente, a terapeuta Maria Theresa Ritter e a funcionária pública aposentada Themis Padilha estavam entre as aprendizes. Após o fim das aulas, decidiram levar a atividade adiante. De três passaram para cinco, 10, 15. Hoje, as reuniões semanais chegam a 30 mulheres.

“É uma grande alegria para todas nós”, conta Iara, que, além dos encontros, ajuda a manter uma página no Facebook. Qualquer pessoa pode se unir ao grupo. Os panos, agulhas e linhas são cedidos a quem esquecer o material. As mais experimentadas tratam de dar conselhos às iniciantes. A jornalista garante que não há quem não aprenda a fazer algo bonito no mesmo dia.
Já apareceram homens por lá, mas é raro. A maioria das artistas passou dos 60 anos. A mais velha é dona Edenea, com 87; a mais jovem, Aisha, com apenas 11. Para Iara, as tardes de conversa e novelos são uma forma de revigorar o ânimo das participantes.

“O pessoal melhora de depressão, de doença. Há uma senhora que ficou viúva após 56 anos de casamento. Ela, então, encontra um momento de conforto e alegria. A vida de todas vai se bordando junto”.
Com tanta união, as diferenças são deixadas de lado. Entre as bordadeiras há petralhas e coxinhas, religiosas e ateias e até, vejam vocês, gremistas e coloradas. “O que temos de melhor, além das linhas, panos e agulhas, é o afeto, que perpassa todas as diferenças”, exalta Maria Theresa.

Iara se alegra com a popularização do bordado entre as mais jovens, seja para customizar as roupas, seja com as garotas que usam a técnica para defender pautas feministas.
O grupo ainda promove as Maratonas de Bordado da Redenção, no Parque da Redenção. Basta o material e uma cadeira de praia para passar o dia todo por lá. A proposta do encontro, que caminha para a quinta edição, é a mesma: bordar, se divertir e aproveitar a vida da forma mais leve possível.
De acordo com Iara, as Bordadeiras da Redenção ajudam a subverter o conceito de que as pessoas mais velhas só podem se sentir bem se parecerem jovens.
“Muitas de nós abrimos mão da própria felicidade nesta sociedade cruel com as mulheres. Passamos a vida nos dedicando ao marido, filhos e netos. Bordando, conseguimos um momento para nós mesmas. Não temos que ser jovens. Na velhice temos que ser velhas. E felizes”.
Bordadeiras da Redenção
Onde: Pugg Hot Dog Artesanal – Avenida Osvaldo Aranha, 778. – Bom Fim, Porto Alegre (RS)
Quando: toda terça, a partir das 14h30
Quanto: grátis
Por Bruno Hoffmann