Brasil em flor

{agosto de 2005}

A inglesa Margaret Mee passou meia vida entre nós. Documentou flores raras. Defendeu nossa biodiversidade, nosso homem da floresta. E deixou frutos.

A grande paixão de Mee eram as orquídeas…

A busca de Margaret Mee (1909-1988) pelas flores brasileiras foi incessante. Em 15 expedições à Amazônia e outras tantas ao cerrado e à mata atlântica, essa inglesa radicada no Brasil desde 1952 dedicou a vida a retratar nossa flora, plantas raras, muitas até desconhecidas pela ciência. Algumas foram até batizadas com seu nome, que evoca determinação em ilustrar nossas mais belas flores e exerce fascínio sobre as pessoas que conhecem seu trabalho. Desenhava fora dos padrões tradicionais, no calor da Amazônia, em lugares sem conforto, sobre um barco, com água pela cintura, encostada num tronco cheio de formigas e aranhas, sob tempestade, “embrulhada em capas como crisálida”. E quase sempre sozinha.
Margaret procurava apanhar o instante da floração. É emocionante sua descrição, na última viagem à Amazônia, em 1988, de rara espécie de cacto, Selenicereus wittii, ou flor da lua. A floração acontece na calada da noite e somente uma vez ao ano.
Enquanto eu me postava ali, com a orla escura da floresta ao meu redor, sentia-me enfeitiçada. Então, a primeira pétala começou a se mexer, depois outra e mais outra, e a flor explodiu para a vida.
Aquarelas, desenhos e esboços nos fazem sentir a maestria dessa artista. O frescor dos traços esguios mostra flores delicadas em campos de cores suaves. O tesouro visual retrata orquídeas, bromélias, helicônias, cactos, com tal riqueza de detalhes, cores e tons que a natureza parece estar diluída nas aquarelas.

… como a sobralia yauaperyensis.

DELICADEZA E OUSADIA
Em contraste com a delicadeza de linhas e tonalidades, Margaret era mulher ousada. Mergulhou na paisagem e nos costumes do homem da floresta. Foi das primeiras a denunciar o abandono dos ribeirinhos e a dilapidação de nossa flora. Na gênese de sua arte estava a defesa da biodiversidade da flora brasileira e da conservação de nossos ecossistemas.
Tudo quanto viu e viveu registrou em seus cadernos e nos diários, que serviram como base para livros e inúmeras exposições nacionais e internacionais. Conquistou o mundo com seu trabalho. Foi agraciada com o título de Membro do Império Britânico (MBE) e com a nossa Ordem do Cruzeiro do Sul.
Em 1989, nasce a Fundação Botânica Margaret Mee. Através de bolsas de estudo de seis meses no Royal Botanic Gardens Kew, em Londres, forma e aprimora ilustradores botânicos cujo enfoque seja a floresta brasileira. A fundação realiza também o Concurso Anual de Ilustradores Botânicos.


Mais informações: www.margaretmee.org.br

Heitor e Silvia Reali
Nenhum comentário. Comente!
Compartilhar



Tags: , , ,