36 – Março de 2002

8……………………Dia Internacional da Mulher

‘TENHA ATÉ PESADELOS. MAS SONHE’


Patrícia Galvão, a Pagu.

Um anjo anárquico que veio ao mundo para nos inquietar: assim o dramaturgo Plínio Marcos definiu Pagu, uma das grandes vozes da vanguarda de seu tempo.

Bonita e inteligente, a jornalista Patrícia Rehder Galvão (1907-1962) nasceu em São João da Boa Vista, interior de São Paulo. Com 18 anos, é apresentada ao grupo modernista, comandado por Oswald de Andrade. Participa do movimento antropofágico, defende a libertação sexual da mulher e a busca por sua auto-suficiência amorosa.

“O mais autêntico símbolo feminino da ousadia e inconformismo artístico e cultural de seu tempo”, diria Oswald de Andrade sobre Pagu, que substituiu a pintora Tarsila do Amaral em seu coração. Casam em 1930 e engajam-se na luta revolucionária, filiando-se ao Partido Comunista.

O casal edita o jornal panfletário O Homem do Povo. Pagu assina a coluna A Mulher do Povo. Critica o comportamento das elites e convida a mulher à luta, ao trabalho, ao mundo. Participa, em 1931, do comício de estivadores em Santos. Acaba presa. Libertada, é obrigada pelo Partido a declarar-se “agitadora individual, sensacionalista e inexperiente”.

Gera rebuliço ao publicar Parque Industrial, em 1933. Com o pseudônimo de Mara Lobo, denuncia a sobrecarga emocional e física da paulistana de subúrbio, porque tem de trabalhar, ser amante e mãe. Atacada pela imprensa, viaja pelo mundo. EUA, Japão, China, Rússia, França, de onde envia correspondência para jornais do Rio e São Paulo. Em Paris, estuda na universidade de Sorbonne, mas acaba presa como comunista e volta ao Brasil.

Sob o Estado Novo de Getúlio Vargas, é novamente presa em 1935. Sofre torturas durante quatro anos e meio. Em liberdade, une-se ao jornalista e escritor Geraldo Ferraz, com quem tem o segundo filho e permanece até o fim da vida.

Desiludida com a esquerda, dedica-se à literatura, à tradução e à crítica de teatro. Em parceria com Ferraz, publica o romance A Famosa Revista, em 1945. Faz ainda uma tentativa de resgatar sua militância política. Candidata-se pelo Partido Socialista Brasileiro a deputada estadual, mas não é eleita. Dedicou os últimos anos de vida trabalhando pela cultura. Escreveu:
“Sonhe. Tenha até pesadelos, se necessário for. Mas sonhe.”