36 – Março de 2002

14…………………….Dia Nacional da Poesia

TINHA MUITA LENHA NO ANGU DO OSWALD

Escapulário
Oswald de Andrade

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia

Exportar poesia. Poesia Pau-Brasil. Em 18 de março de 1924, Oswald de Andrade, um dos mentores do modernismo, lança no Correio da Manhã o Manifesto Pau-Brasil, ideário daquilo que entende por poesia brasileira.

“A poesia existe nos fatos”, diz o manifesto. “Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos.
O carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça. Pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica.”

Tal como a madeira, nosso primeiro produto de exportação e primeiro sinal de existência do Brasil para o mundo, Oswald propõe sinalizar o País com poesia renovadora, liberta dos modelos poéticos importados do século 19, capaz de captar nossa originalidade nativa:

“A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos.”

Ele embaralhava e confundia noções de nacional e cosmopolita, primitivo e moderno, vanguarda e tradição:

“Temos a base dupla presente – a floresta e a escola. (…)
Um misto de dorme nenê que o bicho vem pegá e de equações. (…)
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céus e a sábia preguiça solar.”

Monteiro Lobato chamou isso de “processo de atrapalhação”. Para ele, Oswald fazia um “angu completo dos valores e regras universalmente aceitas”.

Oswald não exigia fórmulas estéticas para nossa poesia, só propunha uma “poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Não se trata de nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. É apenas ver com olhos livres”.

Lobato chiou. Mas o movimento lançado por Oswald, ao romper com o servilismo aos modos europeus de expressão, nacionalizou nossa estética e se tornaria – no dizer de Darcy Ribeiro – “o que nos sucedeu de mais sério e originalmente brasileiro”.