105 – Janeiro de 2008

MILHO
Zea mays

SUSTENTO DA VIDA

Por Mylton Severiano

Quando Colombo aportou na América em 1492, o milho era o principal alimento dos povos do Novo Mundo. O “rei dos cereais” ganhou o planeta. Hoje pinta casas e automóveis, embala produtos, ajuda a produzir penicilina e pode até substituir o petróleo.

Sou a polenta do imigrante e amiga dos que começam a vida em terra estranha.
Em 1951, quando eu tinha 10 anos, ficou pronta nossa casa própria, de madeira, em Marília, interior paulista. Assim que nos instalamos no terreno de 2 mil metros quadrados, meus pais providenciaram sementes de milho e ensinaram a criançada a plantar.
Seis grãos na cova. Quatro na regra, dois de quebra.
Com uma semana, lá vieram os brotos. E o milharal logo virou uma floresta aos olhos dos pequenos.
Do chão ao pendão, sessenta dias vão.
Ali brincávamos de esconde-esconde, ali me refugiava para ler, à sombra verde e perfumosa.
Senhor, como a roça cheira bem!
O idílio durou uns quatro meses, até a colheita, primeira e única. No ano seguinte, o pai construiu mais quatro casas, para alugar. Inesquecível a filharada descascando espigas, e a mãe cortando com faca, rente aos sabugos, os grãos de milho verde, jogando-os na bacia, para fazer bolo, pamonha, curau. E lá sabíamos que milho é o “sustento da vida”? Só sabíamos que tudo quanto vem dele é gostoso.
Ao me debruçar agora sobre um dos três cereais mais populares do mundo – ao lado do trigo e do arroz – descubro que os pré-colombianos já o cultivavam há mais de 8 mil anos. Aliás, os nativos o “inventaram”: as primeiras espigas, mirradas, mediam dois centímetros e meio; eles foram selecionando os melhores grãos e replantando. A erva tornou-se significativamente mais alta e robusta. A espiga chegou aos 30 centímetros.
Diz a pesquisadora mexicana Silvia Riveiro: “O milho é o sucesso agronômico mais importante da história. De uma simples gramínea de pastagem, o teocintle, os povos indígenas da América Central criaram uma planta de enorme versatilidade, que pode ser cultivada em muitos ecossistemas diferentes e tem uma multiplicidade de usos”.
Veja que curioso: o milho, tal como atualmente é, sem o homem desapareceria. Os grãos, aderidos firmemente à espiga e protegidos por camadas de resistente palha, precisam da nossa mão para chegar à terra e germinar.

TRANSGÊNICOS: VOCÊ É CONTRA OU A FAVOR?

Transgênico (organismo geneticamente modificado) é planta que recebeu genes de outra espécie através da biotecnologia. No milho, inseriram um gene que o tornou resistente a pragas. A transgenia gera polêmica mundial. Eu mesmo ainda não tenho opinião formada.

A favor
•Aumenta a produtividade, diminui os custos de produção, deixa a planta mais resistente, reduz o uso de agrotóxicos.
•A maioria das empresas de agrotóxicos não trabalha com transgenia; podem estar por trás das campanhas contra.
•O material apresentado pelas ONGs contrárias à transgenia não passa de pseudociência.
•Permite frutas maduras por mais tempo e plantas que funcionam como vacinas.

Contra
•Os estudos são insuficientes para provar que essas espécies não trazem risco à saúde e ao ambiente.
•Membros da Comissão Técnica de Biotecnologia, que aprova ou não transgênicos, são financiados por empresas de transgenia.
•O uso acabará com espécies nativas e com a agricultura familiar.
•A semente do transgênico é estéril, e o agricultor fica à mercê das empresas multinacionais.

FARMÁCIA E ARMAZÉM
O QUE MAIS ELE FAZ?

Protege os músculos e o sistema reprodutor (mais potência sexual). Regulariza o sistema nervoso e o aparelho digestivo; tonifica o coração. Bom para o cérebro e os ossos. Energético. Fibroso. De fácil digestão. Matéria-prima de artesãos. A indústria o transforma em óleo, biscoitos, xaropes, adoçantes, salgadinhos; ração animal; cosméticos, pasta de dente, remédios; roupas; adesivos, embalagens, tintas; e combustível (etanol). É a espécie vegetal mais usada em pesquisas genéticas.

ABENÇOADO MILHO
INSPIRAÇÃO PARA CORA E LOBATO

A homenagem mais célebre ao milho é o Visconde de Sabugosa, imortal criação de Monteiro Lobato. A goiana Cora Coralina, autora dos versos destacados na página anterior, dedicou-lhe uma Oração e um Poema. Desse último, olha que bonitos trechos:
Jesus e São João
desceram de noite na roça,
botaram a bênção no milho.
E veio com eles
uma chuva maneira, criadeira, fininha,
uma chuva velhinha,
de cabelos brancos,
abençoando
a infância do milho.
(…)
E o milho realiza o milagre genético de nascer:
Germina. Vence os inimigos,
Aponta aos milhares..

SAIBA MAIS
Gostosuras e Travessuras com Milho, de Conceição Fenille Molinaro (Globo, 2003).
Melhores Poemas de Cora Coralina, organização de Darcy França Denófrio (Global, 2004).
Embrapa Milho e Sorgo: www.cnpms.embrapa.br

Mylton Severiano é jornalista.