
MILHO
Zea mays
SUSTENTO DA VIDA
Por Mylton Severiano
Quando
Colombo aportou na América em 1492, o milho era o principal alimento
dos povos do Novo Mundo. O “rei dos cereais” ganhou o planeta.
Hoje pinta casas e automóveis, embala produtos, ajuda a produzir
penicilina e pode até substituir o petróleo.
Sou
a polenta do imigrante e amiga dos que começam a vida em terra
estranha.
Em 1951, quando eu tinha 10 anos, ficou pronta nossa casa própria,
de madeira, em Marília, interior paulista. Assim que nos instalamos
no terreno de 2 mil metros quadrados, meus pais providenciaram sementes
de milho e ensinaram a criançada a plantar.
Seis grãos na cova. Quatro na regra, dois de quebra.
Com uma semana, lá vieram os brotos. E o milharal logo virou
uma floresta aos olhos dos pequenos.
Do chão ao pendão, sessenta dias vão.
Ali brincávamos de esconde-esconde, ali me refugiava para ler,
à sombra verde e perfumosa.
Senhor, como a roça cheira bem!
O idílio durou uns quatro meses, até a colheita, primeira
e única. No ano seguinte, o pai construiu mais quatro casas,
para alugar. Inesquecível a filharada descascando espigas, e
a mãe cortando com faca, rente aos sabugos, os grãos de
milho verde, jogando-os na bacia, para fazer bolo, pamonha, curau. E
lá sabíamos que milho é o “sustento da vida”?
Só sabíamos que tudo quanto vem dele é gostoso.
Ao me debruçar agora sobre um dos três cereais mais populares
do mundo – ao lado do trigo e do arroz – descubro que os
pré-colombianos já o cultivavam há mais de 8 mil
anos. Aliás, os nativos o “inventaram”: as primeiras
espigas, mirradas, mediam dois centímetros e meio; eles foram
selecionando os melhores grãos e replantando. A erva tornou-se
significativamente mais alta e robusta. A espiga chegou aos 30 centímetros.
Diz a pesquisadora mexicana Silvia Riveiro: “O milho é
o sucesso agronômico mais importante da história. De uma
simples gramínea de pastagem, o teocintle, os povos indígenas
da América Central criaram uma planta de enorme versatilidade,
que pode ser cultivada em muitos ecossistemas diferentes e tem uma multiplicidade
de usos”.
Veja que curioso: o milho, tal como atualmente é, sem o homem
desapareceria. Os grãos, aderidos firmemente à espiga
e protegidos por camadas de resistente palha, precisam da nossa mão
para chegar à terra e germinar.
TRANSGÊNICOS:
VOCÊ É CONTRA OU A FAVOR?
Transgênico
(organismo geneticamente modificado) é planta que recebeu genes
de outra espécie através da biotecnologia. No milho, inseriram
um gene que o tornou resistente a pragas. A transgenia gera polêmica
mundial. Eu mesmo ainda não tenho opinião formada.
A
favor
•Aumenta a produtividade, diminui os custos de produção,
deixa a planta mais resistente, reduz o uso de agrotóxicos.
•A maioria das empresas de agrotóxicos não trabalha
com transgenia; podem estar por trás das campanhas contra.
•O material apresentado pelas ONGs contrárias à
transgenia não passa de pseudociência.
•Permite frutas maduras por mais tempo e plantas que funcionam
como vacinas.
Contra
•Os estudos são insuficientes para provar que essas espécies
não trazem risco à saúde e ao ambiente.
•Membros da Comissão Técnica de Biotecnologia, que
aprova ou não transgênicos, são financiados por
empresas de transgenia.
•O uso acabará com espécies nativas e com a agricultura
familiar.
•A semente do transgênico é estéril, e o agricultor
fica à mercê das empresas multinacionais.
FARMÁCIA
E ARMAZÉM
O QUE MAIS ELE FAZ?
Protege
os músculos e o sistema reprodutor (mais potência sexual).
Regulariza o sistema nervoso e o aparelho digestivo; tonifica o coração.
Bom para o cérebro e os ossos. Energético. Fibroso. De
fácil digestão. Matéria-prima de artesãos.
A indústria o transforma em óleo, biscoitos, xaropes,
adoçantes, salgadinhos; ração animal; cosméticos,
pasta de dente, remédios; roupas; adesivos, embalagens, tintas;
e combustível (etanol). É a espécie vegetal mais
usada em pesquisas genéticas.
ABENÇOADO
MILHO
INSPIRAÇÃO PARA CORA E LOBATO
A
homenagem mais célebre ao milho é o Visconde de Sabugosa,
imortal criação de Monteiro Lobato. A goiana Cora Coralina,
autora dos versos destacados na página anterior, dedicou-lhe
uma Oração e um Poema. Desse último, olha que bonitos
trechos:
Jesus e São João
desceram de noite na roça,
botaram a bênção no milho.
E veio com eles
uma chuva maneira, criadeira, fininha,
uma chuva velhinha,
de cabelos brancos,
abençoando
a infância do milho.
(…)
E o milho realiza o milagre genético de nascer:
Germina. Vence os inimigos,
Aponta aos milhares..
SAIBA
MAIS
Gostosuras e Travessuras com Milho, de Conceição Fenille
Molinaro (Globo, 2003).
Melhores Poemas de Cora Coralina, organização de Darcy
França Denófrio (Global, 2004).
Embrapa Milho e Sorgo: www.cnpms.embrapa.br
Mylton
Severiano é jornalista.