25
– Abril de 2001
De quem são
esses olhos?
São os olhos de um dos maiores compositores
da moderna MPB. Carioca, criado em São Paulo, entra em faculdade
de arquitetura, mas troca a prancheta pelo violão. Em 1965
lança o primeiro disco. Fica nacionalmente conhecido ao dividir
o primeiro lugar no 2o Festival da MPB, na TV Record (1966). Em
1982, estes olhos ilustram a capa de seu LP. Qual o nome deste disco
e de quem são estes olhos?
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DEMOROU!
LETRA DO NOSSO HINO LEVOU 91 ANOS PARA FICAR PRONTA
Por Marcelo Duarte
Em 1831, o imperador Pedro I anunciou que
deixava o trono para o filho e voltaria a Portugal. Foi a oportunidade
que o músico Francisco Manuel da Silva esperava para apresentar
sua composição. Pôs a letra do desembargador
Ovídio Saraiva e o hino foi cantado em 13 de abril, na despedida
de Dom Pedro I.
Durante algum tempo, a música teve
o nome de Hino 7 de Abril, data do anúncio da abdicação.
Os portugueses consideram a letra ofensiva a eles, por isso ela
foi esquecida, mas a partitura de Francisco Manuel passou a ser
executada em solenidades públicas a partir de 1837. Para
comemorar a coroação de Dom Pedro II, em 1841, o hino
recebeu novos versos, de autor desconhecido. A música passou
a ser considerada o Hino do Império. Era também tocada
no exterior sempre que o imperador estivesse presente. Francisco
Manuel ficou famoso. Recebeu convites para dirigir e fundar instituições
musicais. Mas o Brasil continuava com um hino sem letra.
Com a República, em 1889, o governo provisório fez
concurso para o novo hino. Primeiro escolheram um poema de Medeiros
e Albuquerque, aquele que diz “Liberdade, liberdade/ Abre
as asas sobre nós”. No primeiro julgamento, dia 4 de
janeiro de 1890, 29 músicos apresentaram seus hinos. A Comissão
Julgadora selecionou quatro para a finalíssima.
No dia 15, em sessão de homenagem
ao Marechal Deodoro no Teatro Santana, perguntaram ao novo presidente
se ele estava ansioso pela escolha do novo hino. Ele disse: “Prefiro
o velho.” Cinco dias depois, no Teatro Lírico, uma
banda e coro de trinta vozes regidos por Carlos de Mesquita executaram
as finalistas. Segundo o regulamento, estavam proibidos os aplausos.
Após um intervalo, a banda executou de novo os quatro hinos.
Aí, sim, o público pôde se manifestar. O mais
aplaudido foi o do maestro Leopoldo Miguez, também escolhido
pela Comissão Julgadora. O presidente Deodoro e quatro ministros
deixaram o camarote oficial e voltaram em seguida. O ministro do
Interior, Aristides Lobo, leu o decreto que conservava a música
de Francisco Manuel como hino nacional. Mesmo sem a partitura, a
orquestra tocou a música e a platéia delirou. Como
prêmio de consolação, a obra de Medeiros e Albuquerque-Leopoldo
Miguez ficou conhecida como Hino da Proclamação da
República. Só que o Brasil continuava com um hino
sem letra. Mas, se a música já era tão bonita,
para que letra?
Só em 1909 apareceu o poema de Joaquim Osório Duque
Estrada. Não era ainda oficial. Tanto que, sete anos depois,
ele ainda foi obrigado a fazer onze modificações.
Ganhou 5 contos de réis, dinheiro suficiente para comprar
metade de um carro. O Centenário da Independência já
estava chegando. Aí o presidente Epitácio Pessoa declarou
a letra oficial no dia 6 de setembro de 1922. Francisco Manuel tinha
morrido em 1865 e o maestro cearense Alberto Nepomuceno foi chamado
para fazer as adaptações na música. Finalmente,
depois de 91 anos, nosso hino estava pronto!
NOEL ACERTAVA ATÉ
QUANDO ERRAVA
Rio de Janeiro, 1931. Noel Rosa (1910-1937)
namora Josefina, a Fina. Moça pobre, roupas modestas, sapatos
baixos, sem meias. Envergonhada por ser operária, não
conta ao namorado onde trabalha. Certo dia, Noel passeia em seu
carro, um velho Chandler preto. E vê Fina de marmita na mão,
na porta da Companhia América de Tecidos. Inspirado, compõe
Três Apitos. Saberia depois, da própria Fina, que ela
era cobiçada pelo contramestre da indústria onde realmente
trabalhava, uma fábrica de botões. E acrescentaria
novos versos ao samba:
Nos meus olhos você lê / Que eu
sofro cruelmente
Com ciúmes do gerente impertinente / Que dá ordens
a você.
Fina não trabalhava na fábrica
de tecidos, mas o engano proporcionou uma das mais belas homenagens
ao valoroso trabalhador da indústria têxtil.
QUE O BRASIL
É VELHO NÃO ESTÁ ESCRITO
Os primeiros humanos a pisar nosso
chão chegaram 500 séculos atrás. É o
que garantem arqueólogos brasileiros e franceses, chefiados
por Niède Guidon. Os mais antigos vestígios deles
se encontram no sítio Boqueirão de Pedra Furada, em
São Raimundo Nonato, Piauí. Em vez de carta, como
fizeram os portugueses, deixaram restos de fogueira. Tese polêmica.
Nem todos aceitam que tal fogueira tenha sido provocada por mão
humana. Na região existem pinturas de 14 mil anos.
Muitas regiões apresentam
evidências milenares de presença humana. Sabe-se que
caçadores e coletores vagavam por boa parte do território
12 mil anos A.P. (Antes do Presente, como definem cientistas). Sítios
dos mais antigos ficam nas bacias do Rio Madeira, em Rondônia
(11.940 A.P.); do Rio Guaporé, no Mato Grosso (14.000 A.P.);
de Lagoa Santa (16.000/22.000 A.P.); da Serra do Cipó (11.960
A.P.); e Vale do Peruaçu (12.000 A.P.), em Minas Gerais.
Para você ter idéia de quanto tempo faz isso tudo,
a escrita só aparece 6 mil anos A.P.
DIPLOMATA
REBELDE PASSA O 7 DE SETEMBRO SOZINHO
O País estava bem defendido
pelo artista-diplomata Vinicius de Moraes, atrás duma escrivaninha
ou na frente dum palco. Difícil era conciliar protocolos
tão diferentes. Odiava gravata. Preferia o palco.
Em 1946, assume o primeiro posto,
vice-cônsul em Los Angeles, Estados Unidos. Entre 1953 e
1957, segundo-secretário da embaixada em Paris. Depois,
Montevidéu. A última missão no exterior foi
junto à delegação brasileira na Unesco, entre
1963 e 1964. Em 1968, o diplomata rebelde, sem “compostura”,
que se metia com músicos, seria vítima do famigerado
Ato Institucional nº 5. Incluído no rol dos “bêbados,
boêmios e homossexuais” a serem banidos do serviço
público. Na noite do decreto, 13 de dezembro, trabalhava
em Lisboa e apresentava show no Teatro Vilaré. Acompanhado
do parceiro Baden Powell, deu bela resposta. Declamou seu poema
Pátria Minha (“A minha pátria é como
se não fosse, é íntima…”), com Baden
tocando o Hino Nacional de fundo.
Seu patriotismo e sua saudade
também se revelavam em situações mais íntimas.
Deixando uma missão no exterior, aguardava sozinho no hotel
a partida do navio que o traria de volta ao Brasil. Era Dia da
Independência. Escreveu a Tom Jobim: “Você já
passou um 7 de setembro, Tomzinho, sozinho num porto estrangeiro,
numa noite sem qualquer perspectiva? É fogo, maestro!”
DATAS:
29 de abril de 1940
Inaugurado o estádio do Pacaembu, hoje Paulo Machado de Carvalho
em homenagem ao “marechal da vitória” (1958-62).
7 de abril de 1908
Fundada no Rio de Janeiro a primeira organização de
jornalistas do Brasil: a Associação Brasileira de
Imprensa, ABI.
DE ONDE VEM A
EXPRESSÃO :
CONTO DO VIGÁRIO
No início do século
18, duas igrejas de Ouro Preto, em Minas, receberam a imagem de
uma santa. Para ver qual ficaria com a oferenda, os vigários
deixaram por conta da “mão divina”. Ou melhor,
no meio do caminho entre as duas igrejas puseram um burro. A paróquia
felizarda seria aquela para a qual o animal se dirigisse. O vigário
vencedor saiu satisfeito com a imagem. Conta-se que, mais tarde,
os fiéis descobriram que o burro havia sido treinado por
um dos concorrentes. O vigário vencedor perdeu a credibilidade.
A expressão “conto do vigário” ganhou
a conotação de falcatrua, maracutaia.
ORIGEM DA PALAVRA:
Mentira
A raiz desta palavra, curiosamente,
é o latim mentis = mente (em oposição a corpus
= corpo). De mentis, os latinos derivaram o verbo mentire = imaginar,
inventar, fingir, portanto mentir. Daí, mentida (dar uma
mentida, mentir). Como acontece com outras palavras, por dissimilação
o “d” de mentida virou “r”, ou seja, a mentida
mente que é mentira.
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